PERFIL
O amor secreto de Daphne du Maurier
Uma das inglesas mais comentadas da literatura do século 20, escritora censurava sua faceta lésbica em romances heteroafetivos claramente inspirados em paixões reprimidas.
por Graziele Marronato
Aristocrata britânica, nascida em 1907, Daphne Du Maurier cresceu com todos os valores da era vitoriana. Criada e educada no lar, conforme a tradição do período, Du Maurier podia ter sido apenas uma dona de casa padrão da época, não fosse o fato de ter dado asas a dois grandes desejos: o de fazer literatura e o de amar mulheres. Com maior e com menor intensidade, respectivamente, diga-se de passagem.
O segredo revelado
O lado lésbico de Du Maurier veio a público há anos, com a publicação de sua biografia, em 1994, escrita por Margaret Forster.
Até então, comentava-se pouco sobre a vida pessoal da autora de Jamaicca Inn, The Birds e Rebecca - todos adaptados para o cinema por Alfred Hitchcock. Casada com o oficial do exército inglês Frederick Arthur Montague Browning, por quem se apaixonou em 1932, parecia não haver muito que falar sobre a vida sentimental de Du Maurier até a abordagem de Forster sobre a paixão platônica que a escritora nutriu por Ellen Doubleday.
Uma adaptação que a tevê inglesa BBC fez sobre a vida de Du Maurier retrata o momento em que ela conheceu Ellen. Era 1945, e a autora passava por momentos difíceis. O marido havia retornado da guerra, e o sentimento que um dia nutrira parecia ter desaparecido.
Afora isso, ela estava sendo acusada de plágio por uma autora que encontrou muitas semelhanças entre seu romance e o maior sucesso de Daphne, Rebecca - e foi no navio a caminho do julgamento do caso em Nova York que ela conheceu a primeira mulher por quem se sentiu totalmente atraída.
Na cinebiografia, a americana aparece vestida em inacreditáveis trajes elegantes, com cabelo negros brilhantes, pele branca e lábios vermelhos - o que fisga Daphne de cara, mais acostumada com as austeridades dos trajes ingleses.
Amor proibido
No entanto, a intimidade que logo se instaurou entre as duas ficou restrita à amizade a contragosto da escritora, uma vez que Ellen sempre deixou clara sua heterossexualidade.
Em uma das cenas do filme, inclusive, Daphne sustenta que sua amada não a quer somente por dar muita atenção ao que a sociedade pensa, ao que Ellen responde que ela própria não se permite ser feliz, já que continua a persegui-la mesmo sabendo que ela nunca cederia.
As tendências “venezianas” da escritora (venetian, gíria comum da época para lésbica) estavam disfarçadas em alguns de seus textos mais famosos. À época de sua paixão por Ellen, Du Maurier escreveu September Tide, peça sobre o amor proibido entre um homem jovem e sua sogra.
Embora, segundo a biografia de Forster, o grande amor de Du Maurier tenha sido Ellen Doubleday - “com ela, sentia-se como um adolescente de 18 anos apaixonado” -, caso carnal, ela só teve com Gertrude Lawrence, atriz conhecida por sua bissexualidade - e, assim, o lado proibido e mais “hard” de Daphne finalmente veio à tona!...
Imagens: Reprodução