ARTIGO
Origens do Carnaval
Na festa de Momo, milhares de pessoas caem na folia. Sabe de onde vem tudo isso?
por João Marinho
Você certamente já ouviu a expressão: “O Carnaval é a maior festa popular do mundo”. Em cima dela, o Brasil tem construído parte de sua imagem, já que a “maior festa” da frase é geralmente a nossa.
No entanto, como é sabido, o Carnaval também é comemorado em outros países, inclusive na Europa – e suas origens podem ser bem mais antigas do que podemos supor.
Dança e sexo
As ligações mais remotas do Carnaval seriam com o Antigo Egito, nas festas em honra à Deusa Ísis ou ao Deus Osíris e ao touro Ápis. Dança, bebida e sedução já integravam o evento.
Além disso, outras relações podem ser estabelecidas com festas persas em honra aos Deuses Naita e Mitra e com as Sáceas babilônicas, um período de licenciosidade sexual, quando escravos e senhores trocavam de papéis. Em comum, todas elas evocavam a fertilidade, como parte das comemorações pelas colheitas.
Bebida à vontade
Entre gregos e romanos, também havia festas precursoras do Carnaval entre os séculos 7º a.C. e 6º d.C.
Para os gregos, eram as Dionísias, festas em honra a Dioniso, Deus do vinho. Em Atenas, no tempo de Pisistrato (605-527 a.C.), provavelmente o responsável pela oficialização do culto a Dioniso, a imagem do Deus era transportada em embarcações com rodas, simbolizando sua chegada pelo mar.
O costume passou a Roma, onde Dioniso tornou-se Baco, em honra de quem eram feitas as Bacanais. Em latim, a embarcação típica utilizada pelos gregos ganhou o nome de carrus navalis, depois carrum navalis, de onde há quem diga que surgiu o termo “Carnaval”.
Em Roma, havia ainda as Saturnálias, festas em honra a Saturno – o titã Cronos dos gregos, pai de Zeus (Júpiter, para os romanos) –, quando se suspendiam as convenções sociais. Por fim, comemoravam-se as Lupercais, em honra ao Deus Pã, quando os sacerdotes saíam nus dos templos e perseguiam a população com correias.

A conversão cristã
Quando o cristianismo chegou, encontrou costumes como esses já arraigados na população, difíceis de combater. Não por acaso, em 590, o papa Gregório 1º oficializaria o Carnaval – o que não significa que, várias vezes na História, a Igreja Católica não tenha tentado reprimir os folguedos. Outros papas que agiram para “discipliná-los” sob a ótica do catolicismo foram Paulo 2º e Gregório 13.
No entanto, acabou por prevalecer a idéia de cristianizar tudo, embora o resultado tenha sido uma divisão entre as comemorações mais sérias, ligadas ao clero e à nobreza, e as populares e cômicas, para as camadas menos favorecidas.
Posteriormente, com a Reforma – e, anos depois, com a Contra-Reforma –, a divisão entre os mais e os menos favorecidos se aprofundou, e os protestantes quase exterminaram as comemorações em alguns lugares.
Não conseguiram, mas permanece fato que o Carnaval tem mais força na tradição católica, na qual inclusive integra o calendário religioso. Os protestantes, por sua vez, até hoje tendem a renegá-lo e mesmo proibi-lo doutrinariamente a seus fiéis.
Seja como for, da Europa, o Carnaval espalhou-se via colonização, e, na América Latina, inclusive no Brasil, misturou-se às heranças negra e indígena, ganhando as características pelas quais atualmente o conhecemos – embora muitas delas, como os carros alegóricos e o uso de fantasias, sejam oriundas ainda da época do Renascimento.
Só para constar, em nosso País, tudo teria começado com os portugueses da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde. Tem até data: 1723. Era o entrudo, um conjunto de correrias e brincadeiras que podiam chegar até a uma certa dose de violência.
Questão de palavra
Certo – mas se a origem da festa são comemorações como as Sáceas ou as Dionísias, de onde teria surgido o termo “Carnaval”? A palavra seguramente surgiu na Idade Média, mas os especialistas se dividem quanto à sua origem.
Para alguns, a resposta pode ser encontrada nas festividades a Dioniso ou Baco: a palavra teria surgido dos carrum navalis, como nos referimos mais atrás. Essa hipótese, no entanto, tem sido bastante contestada e refutada.
Para a maioria, a origem é a expressão “dominica ad carne levandas”, instituída por Gregório 1º quando este oficializou o início da Quaresma na Quarta-feira de Cinzas.
Nesse caso, a expressão modificou-se com o tempo, tendo sido abreviada para carne levandas, carne levale, carne levare, carne levamen, todas variações em dialetos italianos.
O Houaiss informa que, no italiano atual, o termo teria finalmente se fixado em carnevale no século14, a partir do milanês carnelevale (1130). Daí, tornou-se carneval no francês (1552), depois carnaval (1680), e, então, ainda no século 17, penetrou em outras línguas européias. Em comum, todas essas expressões significam algo como “retirar a carne”, constituindo-se numa referência ao período de 40 dias de abstinência que antecede a Páscoa católica.